O preconceito italiano: da xenofobia e homofobia ao Antonio Banderas e à prestigiada Barilla

Eu sei que sempre rola esta curiosidade: os italianos têm preconceitos dos brasileiros?

Dos turistas não, de jeito nenhum, no entanto, a história é longa, mas vamos lá.

Os italianos, de um modo geral, são muito simpáticos e receptivos, mas no que diz respeito aos estrangeiros que moram na Itália, a resposta à pergunta é afirmativa: a velha guarda italiana não só é preconceituosa em relação aos brasileiros como em relação a qualquer pessoa que não seja italiana e que more na Itália.
O preconceito italiano: da xenofobia e homofobia ao Antonio Banderas e à prestigiada BarillaNo entanto, esse preconceito sofre variações, que dependem das características físicas das pessoas.

Um termo muito usado pelos italianos, acima de 50 anos, é o extracomunitário, que seria um adjetivo utilizado para referir-se às pessoas que moram na Itália, mas não fazem parte da Comunidade Europeia, certo?
Errado.

Na verdade o adjetivo extracomunitário, empregado de forma pejorativa, faz menção a todas as pessoas que moram na Itália, mas não são italianas, sobretudo as que apresentam traços raciais característicos como os negros, os indianos e os mexicanos.

Como isso funciona na prática?

Quando cheguei a Milão, uma das primeiras coisas que fiz, foi alugar um apartamento.
Na hora de fechar o contrato com o agente imobiliário e o proprietário do imóvel (brancos e acima dos 50 anos), a conversa girava em torno das vantagens do imóvel, entre elas, o serviço de portaria prestado por um extracomunitário da América do Sul, provavelmente do Chile ou do Peru.

Na época o meu italiano era pífio, preferi não comprar briga, mas compreendi, claramente, o tom depreciativo.

O Carmine percebeu o meu ar de insatisfação e reavivou a memória dos dois em relação à minha origem brasileira.
A reação deles?
Nenhuma, afinal eu era branca, sem traços físicos típicos, ou seja, estava muito longe de ser avaliada como uma extracomunitária.

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Assim que a casa ficou pronta, a sogra veio fazer uma visita.
Dias depois, estávamos com a mulher do irmão da sogra, que é francesa, e a sogra saiu-se com esta: “O bairro onde a Simone mora é fantástico: bem arborizado, tranquilo, com muitos parques e não tem extracomunitários.”
A tia francesa não gostou e fez questão de relembrar à sogra que, assim como ela, eu também era extracomunitária.
A sogra também ficou surpresa, uma vez que eu era branca, não podia ser considerada uma extracomunitária.

E onde é que entra o Antonio Banderas nessa conversa? Na Barilla, mais precisamente, nas propagandas da Mulino Bianco.

O preconceito italiano: da xenofobia e homofobia ao Antonio Banderas e à prestigiada Barilla

A Barilla é uma das maiores empresas alimentícias da Itália. É líder mundial no mercado de massas, assim como ocupa uma posição de destaque no setor de molhos prontos, pães, torradas e biscoitos (Mulino Bianco). E tem como presidente o homofóbico Guido Barilla, que declarou, numa entrevista em setembro do ano passado, que a Barilla tinha uma cultura um pouco diferente: o conceito de família, um dos valores fundamentais da empresa, era sagrado e que não faria comerciais com gays porque a família Barilla é tradicional. E que essa escolha não era uma falta de respeito aos homossexuais, afinal eles têm o direito de fazer o que quiserem desde que não incomodem os outros, mas a empresa não pensava como eles e não era direcionada aos gays, mas à família clássica, na qual a mulher desempenha um papel fundamental. Aos que não gostarem da massa Barilla ou dos comunicados da empresa, que comprem outra massa, afinal, não se pode agradar a todos.

Agora é que entra o Antonio Banderas: para a Barilla os problemas são os homossexuais, não os extracomunitários. As propagandas da tradicional empresa italiana são feitas pelo ator espanhol Antonio Banderas, falando em italiano de produtos tipicamente italianos como se fosse um italiano.

Será que a nonna da família tradicional italiana não se sente incomodada com a presença do ator extracomunitário nos comerciais da ilibada Barilla? Ou será que na Itália não há personalidades à altura da empresa?

Após ler as declarações do senhor Guido Barilla, além de eu nunca mais ter comprado nada da marca, fiquei pensando numa personalidade que pudesse representar bem a empresa e cheguei à conclusão de que não existe ninguém melhor do que o “respeitável” ex-primeiro-ministro italiano, Sílvio Berlusconi. Esse sim, representa muito bem a tradicional família italiana. BerlusconiAinda sem hotel? Faça a sua reserva para Milão ou qualquer outra cidade do mundo por aqui.
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16 Responses

  1. Andre disse:

    Só vou comprar Barilla agora.

  2. Simone disse:

    Nossa e ainda tem gente que me atormenta do porque eu não querer morar na Italia,meu marido é italiano e temos um filho lindo mestiço.Sou neta de japoneses…sim são preconceituosos,isso me surpreendeu e muito.Já passei muita vergonha com ele no hotel em São Paulo,quando viu a invasão chinesa no lobby começou a dizer:esquifo!Merda do chinese.Saiu empurrando eles,zombando….fui dizendo, Sorry e ele me repreendeu.
    Disse que sou louca de falar português com nosso filho,uma língua que ninguém fala, ninguém usa!Comentou que embora eu seja brasileira,tenho descendência japa e das japas que viu na vida,eu sou a mais bonita,etc
    Um dos diretores da empresa,falou ao meu marido:nossa como ela é inteligente,culta,linda e que japonês é um povo educado, inteligente mas feio….affff
    Outro retrucou….por isso ela nasceu no Brasil, é a comida brasileira, caipirinha…ela tem esse corpao e o rosto bonito, é inteligentíssima porque o DNA é japonês.

    Olha nunca ouvi tanta merda desculpe a palavra.Eu tenho resistências de ir viver definitivamente na Itália, não pelo meu marido porque eu dou uns bons gritos e eu o coloco no seu lugar,mas o povo em si é isso mesmo e pior?

    • Simone Betoni disse:

      Pois é Simone, o preconceito existe por todos os lados, mas dentro de casa não! O seu marido tem que respeitar você e as suas origens. Fala pra ele que o português está entre as seis línguas mais faladas no mundo 🙂 E continue falando com o seu filho em português: é a sua língua!
      E se decidir vir morar na Itália, imponha-se. Deixe bem claro que você tem orgulho de ser brasileira, mestiça e inteligente 😉
      Abraço,

  3. Andrea disse:

    Maravilhoso. …teclado

  4. Andrea disse:

    Guido Barilla não deve ter muito tempo para assistir filmes americanos. Será que ele sabe que Antonio Bandeiras foi par romântico de um homem o maravilhozo Tom Hanks em Filadelphia????

  5. fernando carvalho disse:

    p.s. vou começar a boicotar a barilla também. era meu spagetti preferido. peninha……

  6. fernando carvalho disse:

    Querida Simone,
    Estou amando o seu bolg. Estou indo pra Milao no fim de setembro e as suas informações sobre a expo e sobre a cidade e todas as demais são ótimas. Com relação ao Luciano o mesmo nem merecia resposta pois ou não sabe o que é homofobia ou tem uma grande dificuldade em entender as coisas.

  7. Vivian disse:

    Juro que não acredito no q esse Luciano disse!

  8. Luciano Silvestri disse:

    “E tem como presidente o homofóbico Guido Barilla, que declarou, numa entrevista em setembro do ano passado, que a Barilla tinha uma cultura um pouco diferente: o conceito de família, um dos valores fundamentais da empresa, era sagrado e que não faria comerciais com gays porque a família Barilla é tradicional. E que essa escolha não era uma falta de respeito aos homossexuais, afinal eles têm o direito de fazer o que quiserem desde que não incomodem os outros,”

    Eu não entendi, onde tem homofobia ai? Eles tem esse direito, está totalmente correto, não vejo nada de errado.

    • Simone Betoni disse:

      Jura, Luciano?
      Não acha homofóbico o conceito de família não englobar os casais homossexuais?
      Também não acha homofóbico o fato de os gays terem o direito de fazerem o que quiserem com a condição de não incomodarem os outros?
      A exclusão dos gays não seria uma forma de preconceito?
      O conceito respeito estaria sendo ‘respeitado’?

  1. 01/01/2015

    […] 31 de dezembro não é a melhor noite para se sair em Milão. O centro estará lotado de bêbados extracomunitários, vai estar um frio danado e os fogos de artifício serão pífios. Réplica: eu morei a vida […]

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